No sangue circula

A poesia não está na palavra, pois a palavra é apenas um canal – a poesia está no amor, está vida, está na morte. “No ar e não é ar – humana e atmosférica”.

Por isso, mesmo povos agrafos sabem o que seja poesia – ninguém precisa da escrita para sentir, daí: “A ninguém ou a língua alguma restrita”.

Daí “Transcende a gente anterior e a homérica”.

Na verdade, o poema trata de liberdade – a individual, especialmente.

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Os poetas encarnam o espírito do tempo em que vivem, e o transcendem, justamente, no que é comum a todos os homens de qualquer tempo. Exemplo: o que singulariza um poeta não é o que é comum – o amor, a vida, a morte –, é o que ele retenha de seu tempo, aquilo que o e anime a gente de uma época. Enfim, o amor, a vida e a morte vão continuar se repetindo, mas o que animou, por exemplo, os tempos homéricos, resta apenas como espirito e experimento – encenação: “Estende o tempo e em tudo se infinita”.
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Não se controla a vida – se nutre, mas não se controla. Assim também a poesia: “No sangue circula, rompe os sistemas” – o sistema nervoso, o sistema político, o sistema econômico, o social... e o contexto.

Para “respirar no poema” é preciso, primeiro, ser livre – e circular no mundo (...)

“No sangue circula”: o amor, a vida, a morte e para além da morte, livre, o espírito.