O cavalinho azul e outras peças (Teatro Maria Clara Machado)

O TABLADO apresenta:

O cavalinho azul (1959), a emocionante história do menino que enfrenta grandes aventuras em busca de seu cavalo. Esta peça é um sucesso absoluto: já foi adaptada para o cinema, em 1983, e traduzida para diversas línguas. Logo em seguida, em A volta do Camaleão Alface (1959), o desastrado vilão provoca um grande alvoroço no acampamento dos índios. Só mesmo Vovô Felício e seus netinhos podem detê-lo. Temos ainda O embarque de Noé (1957), uma farsa bíblica que conta a história da construção da arca de maneira muito divertida. E também Camaleão na Lua (1961); desta vez, o bandido vai aprontar suas trapalhadas bem longe, viajando de forma mágica. Por fim vem a inédita A Bela Adormecida (1996), linda adaptação para o teatro de um dos maiores clássicos da literatura infantil. Tudo no melhor estilo de Maria Clara Machado.

O grande segredo de Maria Clara Machado foi o de sempre manter intactos seu amor e respeito pelas crianças e pelo teatro.

Evitando o tatibitate usado por quem acredita ser necessário se rebaixar para tratar com os pequenos, Maria Clara acreditava na inteligência e imaginação deles, assim como em seu direito de ter bom entretenimento à sua disposição. Após um precioso aprendizado com montagens de textos breves porém memoráveis, de autores variados no tempo e no espaço, e a seguir com a criação de textos pequenos mas cheios de vida, com a simples indagação “Mamãe, gente existe?”, que abre o memorável Pluft, um novo mundo apareceu no teatro infantil, no qual a inteligência e a imaginação infantis sempre foram o norte da bússola teatral da autora.

Todos gostavam de brincar com Maria Clara, afirmando que ela conduzia o seu Tablado como chefe bandeirante que fora; mas não há dúvida de que a disciplina que ela de lá trouxe foi de suma importância para a formação e continuidade do grupo, assim como para o cuidado com todos os detalhes do espetáculo. Porém, é claro que nada disso resultaria nesse precioso legado que Maria Clara nos deixou se não fosse por seu talento criativo e sua paixão pela possibilidade de, como diz em A menina e o Vento, “cavalgar pelas capitanias hereditárias”.

O conjunto apresentado neste volume inclui obras dos tempos em que Maria Clara já era mais do que dona de seu ofício, e ilustra a variedade de seu talento e de sua curiosidade: O cavalinho azul, A volta do Camaleão Alface, O embarque de Noé, Camaleão na Lua e A Bela Adormecida realmente levaram (e continuam a levar) seu público específico a toda espécie de viagem imaginativa, como também de emoção. As montagens que a própria Maria Clara dirigiu completavam sua ideia de qualidade: os textos eram encenados com beleza e carinho, formando um todo que não só divertia como também desenvolvia a atenção e a apreciação.

Só uma pessoa extraordinária poderia realizar a obra e a carreira de Maria Clara no Tablado; conversar com ela era um prazer, por sua inteligência, vivacidade, curiosidade e seu amor por amigos, inimigos e desconhecidos. É claro que os espetáculos realizados por Maria Clara eram bons; porém, basta folhear este volume para sentir o quanto a simples leitura de suas peças diverte, emociona e estimula a imaginação.

São poucos os talentos assim; nós tivemos a imensa sorte de ter tido, para o enriquecimento de nossas crianças (e até mesmo de nossos adultos), uma Maria Clara Machado.

Barbara Heliodora