Wilhelm & Louis

Jonas, a Baleia
y los meseros


Romance


J. Humberto Henriques



























livro dedicado à alavanca
ao sarilho e às manivelas
livro dedicado às portas
que voam dentro das arcas
lúdicas de todas as janelas


























Todo o texto e aplicativos de Jonas e a Baleia
são toleravelmente fictícios – pelo menos devem
ser, bem como a sua gramática e sufusão de
semânticas.





























Objetos visíveis são a expressão dos sentimentos.

Pólen Novalis















Capítulo 1









 
A
s coisas que Jonas soube no momento em que foi engolido pela enorme Baleia foram bem diferentes daquelas que lhe acudiram quando foi vomitado. Pois que nem sempre o momento de ser engolido cursa com os tabiques do momento de se expelir ou ser expelido. A vida tem as suas subtrações de modo muito singular, a ponto de uma coisa até poder ser a outra, mas jamais a outra pode ser a inclusão da mesma se acaso o tempo age como mandatário de enredo ou personagem. Vinha-lhe a frase contumaz, aquela que mais esbatia em sua cabeça em dias que estava a induzir-se em seus pensamentos mais sóbrios, ou ainda na dispersão daqueles que sequer sóbrios eram. Ouvia, como se fosse o merecido que o ouvido nunca esquece. Era a voz da mãe a chamar a sua atenção para os riscos que há em se viver e em ser filho de Deus. Uma coisa muito distinta de tudo que há é viver-se. Sem cuidados ninguém rompe avante. Meritório é o acaso que faz da ovelha um exemplo humilde dentro do redil.
— Tu tens que haver o cuidado, que a mão de Deus é sempre pesada, e pesada demais!
Porque mesmo entendendo o todo que comprime as desavenças e os equilíbrios das coisas, compreendia que para a Baleia engolir há de se medir sempre o tamanho da goela. Já para vomitar, não é preciso que se saiba de goela ou estômago, porque se vomita é porque a coisa entrou em buraco plausível, portanto já consumado, porquanto já consumada. Como se diz em vernáculo de natureza muito lusitana: tudo que sobe um dia há de descer; e completavam os negros nos pátios de seus lugares: tudo que entra, um dia sai. E diziam até mais, que se o tatu entra no buraco, um dia tem que sair. A voz da mãe era repleta de avisos e cada um deles mais afincado em medo do que o outro. Não era raro que seus sons se repetissem em seu bestunto atento:
— O que cá se faz é cá mesmo que se paga. Não é preciso ocupar espaço em outras eras e terras para que se sinta o perdão ou o castigo de Deus. Dói o golpe, o ferro que fere!
Quando se viu engolido, percebeu que há um transe sereno entre a possibilidade e a questão em si. Pois que esse tempo é o consumidor, a fotografia de um futuro que se aproveita de alguma forma, desde que esteja vivo o engolido e quem engoliu. É fato quase certo que, se a Baleia não suporta a carga, o encarregado também não pode suportá-la. Então, o vômito ou a simples madorna que se tira num bucho de cetáceo dependem muito das cargas de tempo de um – engolido – como da outra – aquela que engole e não deixa de sempre haver a fome.
As rêmoras que destilam em torno são caso de se pensar separado. Como se ver vaga-lumes ou estrelas. Jonas achava que sim.







Apenas
apanhou seus trinta e seis anos de idade, que a carga de certos entendimentos eram o saber que bem poderia estar no meio da vida, que até aquele dia não realizara nada do que supusera ser uma meta ou um reino, deixou-se mais levar pela agonia de que nada vezes nada ou elevado a uma potência qualquer, mesmo que seja a zero, pode dar um resultado infinito. E o que é infinito volta a ser o nada que regula as coisas inatingíveis.
Por indução e por soma de ilusão, a vida surgia e insurgia por todos os lados, não obstante fosse engolido ou fosse lançado outra vez às areias e ao mar. O que lhe ocorreu, em provável estância, oxalá no redundado dos vó