Logo abaixo disponibilizamos um breve resumo do livro História das estórias: (três esaios-contos) para que você tenha uma idéia do assunto do qual ele trata. Se rolar a página você terá a oportunidade de fazer a leitura online.
Este volume agrupa três ensaios-contos:
História das estórias;
A Donzela que foi à guerra; e
A vida nos canteiros.
Era uma vez uma bonita donzela, de família nobre, que tentou substituir a velha seu pai, para ir à guerra, pois ela só tinha irmãs. Não é a primeira nem a última vez que se conta e reconta este início de narrativa. Faz séculos e até agora ninguém ousou completar a estória. Pois bem em respeito aos leitores mostro um pouco o contexto geográfico e histórico deste caso fantástico da ‘donzela que foi à guerra’.
A força deste tema narrativo é enorme, como um potencial que dispensou mesmo um desenrolar completo do enredo e conclusões das estórias reproduzidas. Identifico esta potencialidade narrativa na dialógica entre: feminino/ masculino; paz/ guerra; amor/ disputas; romantismo/ tragédias humanas. Fala-se que neste caso trata-se da batalha ocorrida de Toro em 1476, entre a França e Espanha.
Trata-se da fazer circular os três ângulos: História, lenda e contos. Gustave Flaubert – in ‘Três contos’ - retoma lendas e histórias de santo para construir a narrativa de São Juliano; no meu caso partindo das lendas, busco informações históricas para completar (ver funções de V. Propp) a narrativa pela ficção.
Como fatos históricos viram mitos, lendas, contos, espetáculos, filmes? Temos aqui no caso da ‘donzela que foi à guerra’ um tema didático para responder como um destes processos se reconstrói: entre ensaio e conto – daí o título geral.
A permanente proliferação de versões orais deste tema da donzela que foi à guerra tem sido feita pelo folguedo popular Fandango (Barca, Nau Catarineta, Chegança ou Marujada) levando esta história Ibéria para o Brasil.
Herança das mais antigas da cultura luso-brasileira no Brasil, o Fandango - que também é chamado Barca, Marujada, Chegança ou Nau Catarineta - é um espetáculo ou dança dramática, como classificou Mário de Andrade. Ela guarda traços do lirismo medieval - como o romance “A nau Catarineta”-, mantendo arcaísmos da língua e lembranças de aventura das travessias marítimas dos ibéricos. Este é o contexto da literatura oral onde foi parar o romance da donzela que foi a guerra; e sobre os elementos do contexto geográfico e histórico veremos a seguir.
Quanto à permanência desta herança da Nau catarineta no Nordeste do Brasil fui pessoalmente lembrar ao Ministério português de turismo que no Brasil preservamos uma tradição que já não existe mais em Portugal há séculos. Nesta mesma época o governo português namorava a Paraíba fazendo monumentos típicos entre as cidades de João Pessoa e Cabedelo.
Autor e obra
José Maria Tavares de Andrade tavares@unistra.fr pesquisador do Institut de recherche interdisciplinaire sur les sciences et la technologie, Université de Strasbourg - França deste 1994 e responsável pelo Seminário de Etnomedicina. Estudou Filosofia em Olinda e Recife, foi jornalista (Revista O Cruzeiro e Veja) e pesquisador da cultura popular junto a Mauro Motta (Fundação Joaquim Nabuco), Hermilo Borba Filho e Ariano Suassuna, desenvolvendo o projeto de pesquisa: Música Popular Religiosa (DEC-UFPE, 1967-70). Projeto que está na origem do movimento de renovação litúrgica (Ponte dos Carvalhos - Cabo PE) e do Movimento Armorial. Bolsista da Universidade Católica de Louvaina (Bélgica) entre 1970-73 obteve o título de Mestrado em Sociologia e em Linguística. Fez doutorado em Antropologia com Roger Bastide (Sorbonne - Paris III, 1967) e Pós-Doutorado em Epistemologia da Complexidade com Edgar Morin (EHESS, 1989). Ensinou em Londrina (1973-78) e na UFPB até 1994, atuando na Extensão Universitária junto ao pioneiro Centro de Defesa e Direitos Humanos, fundado por Dom José Maria Pires e atua na ONG AGEMTE (PB). Criou a Disciplina Antropologia da Saúde/ Doença e o Grupo Interdisciplinar de Plantas Medicinais, ensinando e pesquisando no Mestrado em Ciências Sociais da UFPB.
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