Cristo

A pintura clássica, no período da Idade Média tardia, e mais adiante, no Renascimento e nos séc. XVI-XVII alterou a imagem original da crucifixão, como era no tempo de Jesus. Não se tratava duma execução sumária (como a decapitação, o apedrejamento, o esquartejamento ou a morte mediante o arremesso de flechas por parte de um pelotão de soldados), mas antes de uma tortura do tipo da empalação. O condenado podia sobreviver dias inteiros entre atrozes sofrimentos. (O desenho ilustra o modo como Jesus provavelmente foi crucificado, com base nas informações histórico-arqueológicas que hoje possuímos. A milenar iconografia oficial modificou o aspecto não apenas da crucifixão como tal, mas também da localidade hierosolimitana na qual se consumou o martírio de Cristo. O Gólgota, em latim Calvário, era um montículo de pedra branquíssima e apreciada, cortada de um lado por uma velha pedreira. De poucos metros de altura, elevava-se rente às muralhas, provavelmente perto duma porta de entrada da cidade. Isso permitia a visão do macabro espetáculo a quem atravessava a porta e servia, portanto, de exemplo e admoestação. As escavações feitas pelos franciscanos da Custódia da Terra Santa, nos subterrâneos da Basílica do Santo Sepulcro (que engloba o local do Calvário) permitiram reconstruir com suficiente credibilidade histórica a cena da Crucifixão. Os inimigos de Jesus não lhe pouparam em vida e nem na morte atrozes calúnias: chamaram-no de sedutor, revolucionário, pecador, delinquente, herege, blasfemo, louco e ligado a Satanás, mas as injúrias eram apenas palavras ao vento, porque, além de serem obviamente falsas, contrastavam com o juízo sereno das pessoas imparciais e com o entusiasmo da multidão. Mas chegou a hora dos inimigos de Cristo, a hora em que se desencadeou contra ele o poder das trevas (Lc 22,53) e não houve limite nem freio.