A LENDA DO CÁLICE DA MORTE

As lendas não possuem registro real de sua existência, apenas e simplesmente surgem dos contos populares, ganhando forma e vida ao longo do tempo e, certamente é a alma de nosso trabalho literário enfeitando o cenário da trama. É importante ressaltar como essa lenda chegou para nós, os autores, puramente pelo mecanismo intuitivo. Essa dinâmica nos remete a tempos remotos e a situações variadas, deixando-nos a mercê da nossa intuição que, conforme os nossos conhecimentos, os mistérios reais vão além do mundo material, e por isso descrevemos tal como nos chegaram.
A história se faz e se perpetua nos grandes acontecimentos, entretanto, os dramas de milhares de pessoas comuns ficaram esquecidos ou enterrados no transcorrer dos anos.
Em toda a Europa durante o trevoso período da Idade Média desenrolaram-se trágicos acontecimentos que mudaram definitivamente o rumo de muitos destinos. Em alguns desses episódios, em nome da religião – como as Cruzadas e a Inquisição –, se deram inúmeros crimes manchando de sangue inocente o solo europeu e de horror o pretérito da nossa tão complicada História.
Naquele tempo, as lutas eram travadas visando principalmente à obtenção de mais poder, de mais prestígio, espalhando pânico e ódio entre os povos. Os dramas enfrentados nos referidos séculos refletiram e muito na própria cultura europeia, e como resultado, foram implantadas modificações significativas após aquele período turbulento.
Estamos cercados de registros relatando tais passagens. E basta apenas, nos remetermos a eles através de estudos ou pesquisas para que nos deparemos com tamanha insanidade. O que nos faz sentir pesar pela imaturidade, ou melhor, dizendo, pela ignorância latente na mente de quase todos os seres que trilharam os caminhos de cada momento histórico, os quais, em nome de suas errôneas crenças, sanha de poder e riqueza aniquilaram milhares de seres. Diante de tais fatos pensamos como é possível ao ser humano ter a frieza suficiente para praticar tantas atrocidades? Não há dúvidas quanto ao nosso estarrecimento perante aquela realidade, porém nos imaginamos mais civilizados, mais espiritualizados e incapazes de semelhantes atitudes. Será mesmo? Se ainda presenciamos tantas desigualdades, sem nos darmos conta de que monstros semelhantes aos de outrora ainda vivem em nosso meio, buscando objetivos semelhantes: são os que promovem guerras, espalham desgraças, expandem misérias ao mesmo tempo em que buscam freneticamente ampliar seus domínios... É certo que, atualmente isso se dá em uma escala menor e de uma forma mais sutil, graças aos avanços intelectuais, tecnológicos e sociais, contudo, não deixam de ser tão nocivos quanto os dos séculos precedentes, porque derivam da maldade ainda existente no homem, desencadeando as tragédias abomináveis causadas pelos erros humanos. Continuamos sendo, por assim dizer, o produto final de diversas fatalidades, hoje mais sofisticadas e abrangentes, que alimentam e saciam o tirano interno, existente em cada um, não obstante, sejamos mais conscientes e na medida de nossos esforços individuais busquemos cultivar as boas ações deixando assim, surgir por vezes, o anjo que ainda almejamos ser.