Os Bálsamos de Santa Fé

Os Bálsamos de Santa Fé
Esse romance trata da vida de dois anciãos, cuja juventude foi promissora e festiva, movida a vinho, mulheres e folguedos. Diante do tempo inexorável, já septuagenários, resolvem se dedicar a uma viagem em direção ao Sul do país. Vão em busca de Porto Alegre. Entretanto, a vida não é mais a mesma e os inconvenientes, as saudades e as amarguras principiam a boiar nesse cadinho de eviscerações. Um fragmento inicial da apresentação do capítulo primeiro desse excepcional romance. Por causa de tanta coisa é que muito nem se explica. As partes, os pedaços. Farfancul de Marques Padilha, da família dos Marques Padilha, tempo em que ainda se amarrava um barbante numa gaiola para saber se o papagaio está amarrado nela e somente. Ora, por causa de tanta parte é que muita leviandade nem acha lugar para ser exaltada ou explicada, o comum da vida há de ser sempre o que ocorre e em situadas noções pode ser combinado sob espectro de loucura. As questões, por exemplo, as que deixam rumor e dúvida. O que são elas senão um contratempo que o estado sólido do mundo acha de consolidar: todo o sólido, ainda mais consolidado porque há imagem demais em tudo que se vigília, o que se sofre. Umas ligeiras, outras com passo de ganso ferido. Quando o olhos sabem enveredar pelo corpo do que se diz, começa mais cedo o entendimento do que se quer ver. Sempre foi assim, desde os dias de barbante, gaiola e papagaio.
Farfancul acostumou-me a matejar ensejos em um formato de espelho. Homem congruente, o que ouvia para si mesmo, a palavra toda imersa num caldo de especulação. Gostava de aplicar consoantes onde havia por demais ensejo de certa pluralidade: o composto. Cria em razões demais e poucos deuses. Onde deuses enfiam a colher de pau, míngua a inteligência do remeximento. Era assim que dizia, cheio das fúrias razoáveis.