O Bilboquê

O Bilboquê
Esse compêndio de contos revela uma face inocente da vida no interior do Brasil. Não obstante, intercala as pequenas sacanagens desse povo que soube construir a sua identidade de maneira sensual. O Bilboquê é um livro excepcional. Mostra uma leitura refinada e cheia de surpresas: Fragmento do livro: Dois jovens esperam que o tempo ande em roda. A roda simplória que o tempo exerce em cada espírito tem um olor de calda de laranja esquecida em um mês de julho. Somente quem é do ramo pode saber interpretar uma frase desse porte, a menos que seja epigramático de comportamento. Porque toada tem o tempo para executar cantigas, rododentros e jogo de amarelinha. Quando coagulado, o tempo põe víscera de fora, muito mais que língua. A língua do tempo costuma sair pela bunda das horas. Estas coisas não chegam a ser conceituais, mas somente resumidas na prática de uma experiência. Há coisas que uma vez descobertas, nunca mais escorregam da mão que tenta. Entram para o rol das experiências antigas e que foram tentadas por tempos intermináveis. Depois, dominadas, viram parte contextual de tudo.
Tem muita coisa do somado e visto que sucede dentro do Mundo, não carece de explicação. Explicar tudo é parte indefesa do conhecimento. Por exemplo, um piolho de urubu, existe ou é somente uma história que se embala com pouco vigor? Por outro exemplo, vendo o que se vê, que prazer pode auferir um jovem assim, tão jovem e belo assim, deixando o tempo andar em roda feito galinha no choco, depois não chegar a ponto nenhum. Para muitos deles, a dizer a verdade, o tempo perdido é somente um arquivo que tem que ser esquecido, sob pena de ruminação perene no depois do frigir dos ovos. A maior alegria deles pode ser o seu des/compromisso com a realidade. A alegria desses jovens. Perder tempo demais é alijar-se da realidade? Do ponto de vista pragmático deve ser. Entretanto, o manto das horas exerce um papel de ferrugem sobre as criaturas que podem existir de forma impune. O tempo tem dessas dobras que se forjam e se limitam.