Conceição do Pará

Esse livro de poesias traz a marca genial desse grande criador. O nome do livro, Conceição do Pará, traz a lembrança e o mapa da grande cidade do estado do Pará, esse mesmo nome. Porém, a julgar-se pela complacência e amplitude da Poesia de um criador como esse, tudo vai muito além desse estado físico dos mapas. O livro é introspectivo, viaja através e além da simplicidade de uma homenagem a uma cidade qualquer, a um estado determinado. É evidente que a memória puxa para esta Conceição do Pará mostrada nos elementos sutis do estado do Pará. Isso não deixa de acontecer. Entretanto, como se pode notar, mesmo à primeira vista, o alcance dessa matéria é alguma coisa de quintessencial.
O modelo de apresentação desses poemas recai nos moldes clássicas que o poeta tem escolhido nos últimos tempos para mostrar seu trabalho. São blocos de dez poemas em cada um. Muitas vezes há um voo elíptico de um assunto para outro. mas como a ideia aqui não prevalece, mas sim, o estudo melindroso e muito meticuloso da palavra, isso não tem muita relevância. O autor sempre divide seus poemas em blocos porque isso parece facilitar a leitura. O fato é que os poemas são muito densos, condensados, a palavra fazendo seus vórtices e se acumulando como um empreendimento muito bem calculado; quando se lê uma obra assim, pode ser que a exigência de atenção seja muito absortiva. Com tal divisão por partes, a facilitação não deixa de ser perceptível. Os poemas exigem uma interceptação de modos.
Esses poemas são uma mistura de poemas mais antigos, escritos há algum tempo, com a alegoria curiosa desse mundo que parece ser absurdo, esta Conceição do Pará. José Humberto Henriques consegue criar um misticismo sem fronteiras para esse lugar. Se por acaso a cidadela estivesse inserida em outro ponto do mapa, por exemplo, uma Tombuktu muito longínqua, a palavra inserida nesses poemas, tudo em conformidade com a fundura das almas humanas, tudo isso seria a mesma coisa. A dizer de outra forma, tanto faz como tanto fez. Aqui o que conta é a relação do homem com o meio ambiente, não exatamente esse meio ambiente fixo em Conceição do Pará, mas em qualquer ponto desse planeta de surtos de curiosidade. Portanto, trata-se de um exímio proposto de Literatura, obra de qualidade e estilo incomparáveis. Por outro lado, se o título curioso de Conceição do Pará foi elegido, que isso seja mais uma obra-prima dos anais da Literatura Universal.
Esses arremates expressionistas que podem ser vigiados na obra de José Humberto Henriques ficam muito preclaros e agem com uma mistura lírica cujo sentido extrapola tudo que foi feito dentro da Literatura até esses tempos de hoje. O uso contundente da metáfora absurda ressurge no lance das construções cheias de um poder imagético espetacular. Muitas vezes o assunto pende para outro ramo, para outras vertentes, o que seria uma exigência do poema para aquele momento em causa. Os resultados são sempre impactantes, o fim do poema traz uma solução profunda para o nada que se quer encontrar.
Á uma identificação com parâmetros vitais anteriores nessa obra, de tal sorte que, a valorização dos tempos de antanho e essa imagem da terra em seus primórdios – vide Conceição do Pará -, a realização de uma vida que ainda está em seus esforços para se implementar. Entretanto, lá já está o homem com suas ilusões e seus enredos de alienação e tentativa de aprimoramento. Esse é um livro que deveria ser reconhecido e conhecido por todos aqueles que sabem que a Literatura serve ao aprimoramento dos sentidos e dos valores humanos.
Ela é essencial. Da forma como faz esse poeta, José Humberto Henriques revira todas as artes plásticas e faz com que o autor busque o reconhecimento em certas passagens fundamentais. Pelo fato de ser um autor com amplitude de grande erudição, nesses livros a poesia acaba se contundindo e exigindo do leitor certa atenção que lhe fará bem à medida que progride no texto. A Poesia tem uma grande capacidade de tomar a atenção do