misericórdia

Misericórdia
Esse livro é outro romance de JH Henriques. Construído no vai e vem de uma história compacta, porquanto não seja linear em sua forma temporal ou espacial, o livro demonstra uma capacidade de criação incomum em qualquer escritor do universo das Letras. O tema é urbano e traduz a vivência que o escritor teve durante a infância e adolescência. Esse é um doa romances mais densos de Henriques. Um fragmento do texto: Desfiado de seus pormenores, aliava um gosto qualquer à sua pureza de todos os costumes, os aprendidos e que acabaram por se tornar antigos à medida que entendia de certas alienações. A mania da vodca, uma dela. A mania da vodca. Nada tinha contra a caninha, em absoluto e grau algum. Porém, era na vodca que fazia reluzir o finalmente daquelas noites muito fechadas em escuridão. Chegava a dizer a si mesmo, Vai ver que da outra vez que eu vim ao mundo, por certo que meus instintos me podem falar da maneira assim assisada, vai ver que eu nasci para aqueles bandas de um lugar muito envolvido com comparações com as bandas de aqui! Falava assim sem saber de mapas e seus tesouros. A noção de mundo para ele, naqueles dias, era por demais resumida ao semblante de umas falas de rádio que a Cassiana ligava nas horas todas do dia. A Cassiana com suas manias, as delas inteiradas, de gostar demais das coisas que dizia o rádio. E daquelas folhinhas Marianas que era da Mariica, o vício dela de arrancar as folhas de acordo com o passamento de cada dia. Viver assim, com os olhos inchados de dormir, dizia o Tota, acaba mesmo sendo um desafio que a cada um cabe, devagar e na refocilada dos dias emporcalhados! Se tinha os seus defeitos, o que queria dizer, não conhecia uma única criatura nesse mundo que não tivesse os seus. E uns, que nem matéria que bóia no lance das águas de poço, nem precisam ser escarafunchados para que mostrem toda a delicadeza de quem os ostenta. Defeito demais, ele dizia, acaba mesmo decompondo para outra história o que a normalidade gosta de embalar como referencial de seus anseios: os da normalidade. Era assim que se deixava a pensar enquanto debruçava-se sobre o copo de vodca e conferia as ilusões dos que o circunstavam. Nada que tivesse contra a cachaça, nada. Somente a preferência o puxava para a lida de um gasto mais autoritário. Cada um consome segundo a regra do papel que se passa, a moeda.