Calendário Ilustrado do Músculo e da Estrela

Calendário Ilustrado do Músculo e da Estrela
São esses poemas muito sensuais. Esse calendário ilustrado não peca pelo exagero. Os artifícios sensuais mudam de nome e viram a grande metáfora metonímia, viram figuras de estilo que dão aos poemas a grandeza monumental do grande criador. Todavia, a partir do prefácio, feito pelo próprio autor, tem-se uma idéia de sua progressão em Literatura da mais pura qualidade. O prefácio está aqui e vale a pena que seja conferido.
Há há quase uma década que eu me mesmo estabeleci como ponto referencial em minha pequena obra, eu mesmo estar a elaborar os meus prefácios. era um estabelecido meio fora de ordem, confesso. devagar fui aprendendo que meus prefácios não eram prefácios, como ajuíza a delação do verbo e do substantivado. eram, isso sim, uma história auto-informativa que poderia ser usada por jovens de boa vontade, num futuro quando houvesse. ou então, tinha vez que meus prefácios eram puríssima ficção. um defeito de leitor que reconhece nos escritos algum elo com a personalidade do criador é haver-se em questões que dizem respeito ao texto, ou à vida de quem cria. por exemplo, acham de buscar realidades em personagens absolutos, daqueles de pureza fictícia incontestável, mesmo alguns com alma de pantagruel ou de panurge. então, se assim são pantagruélicos, nada pode haver de real que reassume neles um caráter presente ou que possa manter alguma relação de causa ou de efeito com o mundo vivido. coisas de extravagância fica mais por conta da imaginação do leitor, ele muitas vezes é tremendamente mais criativo do que quem pensa estar sendo: o pobre escriba. nos últimos degraus de uma composição, porém, há a preocupação de certos leitores com a decifração do texto em si. mormente em poesia pura, tal tarefa pura não é fácil. acostumado ao mesmismo que ataca o dia a dia do consumo, diante de uma produção estranha, que exige mais sentido e mente para ser entendida, oxalá uma intimidade maior com a poesia, o leitor naufraga diante das três primeira páginas e abandona o texto. como dizia aldous huxley em seus ensaios, nem sei mais se um parque de diversão é lugar para se divertir. a propósito disse comentou também adorno quando fazia referência ao fato de que o gosto do qual se gosta não é mais a preferência – por uma música, por exemplo – mas a imposição de determinada repetição que acaba por embrutecer o ouvido de quem ouve. muitas vezes a repetição é tão enfadonha, que quem ouve nem se dá pelo fato de que não está escutando. a grande miserabilidade da indústria consumista que retira do público a oportunidade de escolher. dizem os donos da mídia que o que não interessa para a venda, é clássico, difícil ou desgastado. é uma crueldade tal tipo de imposição, principalmente em terras cá de santa cruz, onde a desavença e o descaso de governos contribui de uma forma inexorável para que tudo permaneça como está. como o desafio à inteligência não é perceptível ao desavisado, consume-se mais e mais. ataca-se a inocência pelo seu lado mais quebradiço: a ignorância. pulula a desvalorização do homem como construtor de sua própria história e estética. assim-assim, de certos anos para cá eu mesmo tenho elaborado os meus prefácios. e sempre com o dedo numa tecla dolorida. aliás, confirmo e contínuo. um grande brinde a todas as mulheres que de alguma forma contribuíram para a minha existência supurada.