O mergulho do mais leve que a água

Esse é um livro de poesias que surge da maturidade de um dos mais prolíficos escritores do planeta. O texto é de uma densidade surpreendente e a inteligência e luz primam nesse livro de maneira emblemática. A palavra é tratada com o respeito que ela merecesse e seu sentido malarmaico aqui se desdobra e atinge os limites da perfeição. Não se trata de um livro simples. Entretanto, não é hermético. É texto para ser lido com parcimônia e cuidado, sempre tentando persuadir o gosto pelas doses homeopáticas, como deve ser feito sempre em leitura de escritores cuja densidade sempre extrapola as convenções banais dos dias hodiernos. Estamos a falar, em verdade, da concepção poética ao seu grau mais apurado.
Nesse livro, J Humberto Henriques mantém o formato anterior, adquirido em muitos e muitos anos de produção esmerada. Divide os poemas em blocos com a finalidade precípua de facilitar a leitura. É uma sugestão que faz ao leitor para que não leia tudo de uma arrancada apenas. O livro exige certa circunspeção e arranjo metodológico para ser lido. Os poemas são complexos, alguns dependem do rearranjo proposto pelos demais, de tal sorte que, uma vez escolhido um modelo de leitura, que ele seja parcimonioso e muitas vezes repetitivo. Mas como se diz, isso não passa de sugestão. O leitor que estiver habituado a esse tipo de leitura, poderá fazer como bem entender, já que em cada cabeça há uma sentença. Sendo dessa forma, o legado que se obtém ao finalizar um livro assim acaba sendo muito promissor. Esse é um dos volumes de J Humberto Henriques que mais exigem perspicácia para a leitura. Livro seco, sintético, cheio de aliterações.
O livro anterior, Faluah, tem uma proposta completamente distinta. É um livro cheio de introspecções, um volume que dá grande notoriedade ao comportamento feminino e suas ilações. Como parece tratar de um nome de mulher árabe, boa parte desse livro gira em torno desse corpo sugerido. Se sorte que, havendo essa posição, a figura perseguida da mulher como sonho idealizado faz com que a lírica poética se sobressaia diante de todas as nuances de um mundo plausível. Muitos dos livros de J Humberto Henriques são assim. Textos que promovem a alma feminina ao ápice do onírico e do desejo. A mulher como centro de um mundo inexprimível. A preferência pelo belo sexo chega a fazer com que o poeta crie e desmembre muitos livros em mais livros para alimentar esta chama.
É o que ocorre, por exemplo, em Andruska Sobrolhos do Nenúfar; Preciosa; Preciosíssima; Cinquenta Poemas der Amor; Lelé Questões Acumuladas. Isso para citar somente alguns, já que essa recorrência pode chegar a ultrapassar o absurdo de mais de cem livros de um único criador. Entretanto, embora haja essa ligação entre os livros, não fosse o estilo que não se confunde jamais, poder-se-ia dizer que foram feitos e elaborados nos arremates por autores diferentes. Isso deve ocorrer pelo fato de o autor ser um buscador incorrigível da perfeição em Poesia, está sempre querendo ultrapassar seus próprios liames. Algumas vezes consegue esse ensinamento através de recursos diversos. Como está explícito aqui nesse volume a inserção de figuras geométricas deformadas de seu plano ortogonal.
Esse mecanismo configura um experimentalismo simples do qual o poeta lança mão com a finalidade de enriquecer seus versos. Isso é poesia visual ainda sob ângulo mistificado. As figuras estão aí e parecem se enriquecer com o texto e o texto com elas. Nesse livro, longe de todo e qualquer lirismo anterior, J Humberto Henriques labora com as atividades humanas essenciais, sentimentos de certas castas e de certos envolvimentos civilizados, imiscui-se na transgressão todo o pensamento comum do ser humano com a volatilização das máquinas e seus fâneros. Com isso, o autor deixa a máquina feita de metal ou material insensível numa posição intermediária entre o sentimento e o óleo que vaza de uma delas.
Muita coisa já foi elaborada em Literatura. A Literatura Universal é rica em muitas