Quebra-Rabo e as Serras

Quebra-Rabo e as Serras
Esse romance completa a trilogia do romance Quebra-Rabo. Trata da vida de Zico Rangel, fazendeiro da região do Alto Paranaíba – Minas Gerais. Texto de fôlego, bastaria para colocar JH Henriques entres os maiores nomes da literatura brasileira contemporânea. Fragmento do romance: Quando tinha seus quarenta anos de vida, que singrava ali, de banda a banda daqueles chapadões e a Pedra Preta era lugar de amplitude grave, sendo terra que pegava de córrego a córrego, deixava espaço de sobra para muito mais de mil bois, Zico Rangel podia se dizer homem de esforço reconhecido demais naquelas paragens. Podia ser chamado de abastado, sempre tinha as generosidades que cabem a qualquer criatura de coração amplo. Era reconhecido, quem visse a camioneta dele derivar e encostar sob as saias de uma gameleira, não demorava a dizer que o Zico tinha chegado. Então, seu nome podia ser falado muitas vezes ali, a ponto de João Jiló vir do Carmo com a finalidade de fazer negociatas com ele. Eram os tempos dos catiras, quando entrava no negócio até mesmo poldro que ainda nem tinha sido parido no devidamente as horas de expurgo que cabem às éguas mães. A troca que visava o lucro avistado, porém, algumas vezes nem isso, mas somente o interesse de aventura ou de perfil que se encaixe em alguma vantagem. No exemplo qualquer, um cavalo que não tem preço para comprar e venda, mas é manso o suficiente para levar a charrete sem dar destroços a ela ou risco de destruição. Nesse caso, perde-se um pouco na troca, mas com lucro na prática que à terra é necessária.
Lembranças todas que cabem a um homem comum, como era mesmo o caso daquele. A dizer a verdade, todos do lugar e mesmo muito longe, todos conheciam Zico Rangel. Era tido como homem regular, de presença graúda, capaz de dar respostas e soluções para muitas querelas. Quando entrava na venda de Manoel Trocamacho, que pedia sua garrafa de cerveja preta, tinha muita gente que vinha conversar com ele, perguntavam pelo preço das coisas, de gêneros e gado, estas coisas que em sua língua e em seu modo de vida eram comuns, eram nada demais. Além do mais, tinha um naipe maior de carta, aquela que nem precisava ficar na manga. Lia os jornais, mesmo que chegassem atrasados em suas mãos. Por isso, dizia sem medo de errar de coisas do governo, apesar de ter que incorrer em alguma humildade nas informações que lhe perguntavam. Haja a vista, o visto, que no mesmo dia que alguma notícia estava favorável, no dia seguinte já estavam a conversar com uma língua muito estabanada, diversa da primeira informação.