o mapa desconexo

O Mapa Desconexo
Esse romance longo, denso, estruturado, narra as aventuras de um garoto ao longo de sua juventude. A tessitura da construção é baseada em fundo de Minas Gerais. O Mapa Desconexo conflui sempre para a banda lúdica da existência. Infância saudável, vivida ali pelos lados da Lagoa Formosa, no Alto Paranaíba. Entre bolas de gude, as tais bilocas e viagens imaginárias em cabeça de uma das personagens, todo um universo de fantasia se descortina. Um fragmento do romance: Mariângela me olhou com um jeito de desvario pronto. Porque, justa seja a verdade, devia estar se sentindo constrangida pela minha insistência em obter dela as proximidades maiores. Pelo meu lado de ver as coisas, seja o meu lado de ver as coisas ainda sujeito a alguma moda egoísta de defesas. Era o dia 24 de junho, um dia de São João muito festejado com fogueiras e um leque de cheiros que fariam qualquer criatura desenhar diversidades num painel de suave noite. Por outra via das observações, nem fosse constrangimento que a movia devidamente. Mas somente a sua forma de se considerar a mais bonita de toda festa ou a mais formosa de todo o centro das nossas atenções. A fogueira batia um recurso de labaredas formidáveis em seu rosto meigo e sereno. Devia ter nove anos de idade naqueles dias e eu tinha onze. Por isso mesmo, foi no depois de o tempo passar que eu pensei que não houvera constrangimento em nada, mas apenas o exagero da minha delação por ela. Eu nunca poderia supor que uma garota pudesse ser tão delicada. Havia uma magia inocente em tudo, um desprendimento de todos os sentidos que me atingiam os ânimos, os centros da alma. Houvera eu eleito a figura de Mariângela como a minha predileta, isso me faria reforçar todos os meus empreendimentos pelo resto da vida. Era daquele tipo de mulher que eu sempre alçaria aos desejos.
- Vamos brincar de passar anel...!
Escutei aquilo no sentido de que quem tivera a idéia há de ter sido uma pessoa com rasgo notável de inteligência. Eu nunca tinha brincado daquele tipo de coisa antes, verdade fosse dita. Entre nós, os homens do gueto, do grupo, os brinquedos eram outros muito diversos. Desde os mergulhos do ribeirão Santa Fé até as corridas atrás de quaisquer novidades mais exigentes. Então, fiquei meio paspalhão diante dos demais, os que sabiam muito bem conduzir o brinquedo. Além do mais, aquilo fugia demais das maneiras e sonoridades da bola, momentos em que ela corria alucinada em torno dos gritos de gol e outras alegrias mundanas. Ali não, o instante era de uma perseverança esquisita. O odor das garotas tinha um quesito especial de doçura. Não obstante tantas formas de dizer as coisas, Mariângela jamais se fazia de organizadora ou líder de qualquer tipo de empreendimento, havia nela somente a nuance daquela que se deixa tanger, embora sempre com face de má-vontade e olhos que arremedam o desejo de que aquilo acabasse logo. Eram as suas maneiras de dizer que a cada um segundo a sua importância, da mesma maneira que fica um dia o prego do dito, A cada um segundo seus erros, suas cuspidelas e suas obras. Para ela, estar ali devia ser enfadonho. E só estava presente porque não havia outra coisa a ser feita dentro da vida que se leva. Naqueles dias não havia novelas de televisão porque na Lagoa Formosa ainda não tinha luz elétrica que desse enredo ao estado simples dessas pequenas coisas. Era tudo muito resumido para quase nada.