MIximxim

Esses contos são emblemáticos. Miximxim – que dá o título ao livro – é o mesmo título de um dos contos que norteiam o compêndio. Portanto, ele puxa os motivos que alicerçam todo o conjunto. São contos de natureza homogênea, sintéticos, todos muito bem amarrados do ponto de vista da conclusão do que se contam do que se expõe. Miximxim é o tipo de livro que não se pode deixar de lado depois que se começa a leitura. As reações humanas são previsíveis em alguns casos – embora nem sempre -, entretanto, isso não demove o leitor de se perfilar como participante e até mesmo juiz diante daquilo que tem diante dos olhos e da alma. São contos introspectivos, todos tomados a um tempo que, tem-se a impressão, não existe mais sobre a face da terra.
Algumas vezes, Henriques chega a lembrar a obra de Murilo Rubião. Isso só se tornaria patente de forma definitiva muitos anos depois, quando surgiria em sua obra a definição mais tardia de uma literatura que iria beirar o fantástico, como acontece no livro Pulpo Fiction. Estamos aqui a tratar de um fenômeno da literatura. De qualquer maneira, é preciso comentar que a obra de JH Henriques também se aproxima demais daquela de Guimarães Rosa, mostra o sabor inigualável das coisas que poderiam ser chamadas de triviais e domésticas. Pensando dessa forma, toda a chamada literatura brasileira do Modernismo envolve as ameias desse escritor genial e poderiam ser envolvidas por ela.
JH Henriques é um desafio enorme e abrangente para as teorias de Literatura e para os críticos. De uma maneira geral é assim. Pois que, sem ser e exagero no que se afirma, trafega entre José Américo de Almeida e Murilo Rubião com o salvo-conduto na caneta imposto. Sua obra não deixa a perda se incorporar em momento algum. Sendo assim, essa liberdade de ampliar os seus assuntos e a maneira espontânea que o move, o contista brilha e prende o leitor do começo ao fim da leitura. Isso é uma característica dos grandes contistas. Henriques tanto navega no conto com esse poder de abrangência, bem como na novela e no romance. Isso o faz um dos mais versáteis escritores brasileiros de todos os tempos, no dizer de grande crítico, Guido Bilharinho. Isso parece ser verdade incontestável.
A sua narrativa é envolvente e brilhante. Traz sempre uma novidade entre a palavra e uma sequência de ideias. Ao contrário do tratamento hermético que alguns contistas dão ao texto, no sentido de uma aproximação maior com o labo jornalístico, JH Henriques vai mais além e mergulha na memória onírica do interior riquíssimo desse Brasil – que ele muitas vezes chama de doce e fulgente promiscuidade. De tal sorte que a carga semântica muito acentuada nessa obra, como mesmo acontece em Miximxim, alberga a semiologia de todo um continente chamado Brasil. Nesse caso, poderia ser mais aproximado de um miolo excêntrico e muito próprio chamado Minas Gerais. Pois Miximxim é o carro chefe desse enredo.
E ninguém sabe o que é miximxim – justamente apondo um M antes de uma consoante não bilabial, o que contraria as regras básicas da ortodoxia lusitana -, sendo assim, surge essa palavra de cunho interrogado e que somente tem alguma coisa a ver com a intransigência performática de uma das personagens desse livro espetacular. Para se entender o que é miximxim é mesmo necessário que se use o texto como referendum. Um universo enorme de sentimentos perpassa, então, entre o escritor, o leitor e a manutenção psíquica das personagens, de tal maneira isso fica tenso e agradável, que a consagração do contista se renova a cada impacto criado. Estas são as tais obras-primas da Literatura Universal.
Com a retomada do conto sob a sua forma mais original e ligada à raiz de um povo e suas manifestações culturais, JH Henriques aproxima a literatura brasileira daquela formação perfeita do conto de Tchekhov. Essa façanha o torna brilhante e incomparável dentro da moderna literatura do Brasil. Em dias atuais, a rarefação da qualidade aqui não existe. Prevalece o